Um estudo realizado pela Universidade Humboldt em conjunto com a Universidade Técnica de Darmstadt, ambas na Alemanha, publicado na última semana de janeiro de 2013, é a primeira tentativa de medir cientificamente a intensidade dessa emoção na internet.
A conclusão é espantosa: uma em cada cinco pessoas ouvidas na pesquisa aponta o Facebook como a origem de sua experiência de inveja. Um bilhão de pessoas, um sétimo da população mundial, participam dessa rede social.
O que fazem nela, basicamente, é colocar fotos, contar detalhes pessoais ou simplesmente fofocar. Sabe-se, pelas pesquisas, que parte considerável desses usuários mantém uma atitude passiva no Facebook. Apesar de passarem muito tempo on-line, limitam-se a seguir o que épostado por amigos que parecem ser mais felizes e saber aproveitar melhor a vida.
Nesse cenário, eles se sentem solitários, excluídos do ciclo de atividade, felicidade e camaradagem on-line das outras pessoas. É nesse caldo de cultura que nasce a gama de emoções angustiantes dissecadas pelos pesquisadores alemães.
O levantamento feito com 584 usuários assíduos do Facebook, constatou que um em cada três deles se declara frustrado e triste imediatamente após se desconectar da rede. Para três em cada dez, o principal motivo do desgosto é a sensação de que os amigos on-line levam uma vida melhor que a sua.
No ranking elaborado pelo estudo, a inveja é o sentimento mais frequentemente associado àfrustração no Facebook. Em segundo lugar, atingindo 19% dos entrevistados, vem a sensação de que suas publicações não recebem atenção. Em seguida, com 10%, está a solidão. Os cientistas alemães descreveram a emoção mais frequente, a inveja, como "uma desagradável mistura de sentimentos por vezes doloridos, causados pela comparação com uma pessoa ou um grupo que possui algo que queremos".
Explica a VEJA Hanna Krasnova, autora da pesquisa: "No Facebook, compartilham-se 30 bilhões de mensagens todos os meses, e esse ambiente serve como vitrine para o narcisismo e a supervalorização de conquistas pessoais. É natural que, ao percorrerem esse amontoado de informações, as pessoas se comparem aos outros". O foco de Hanna é o estudo de sistemas de informação, um campo relativamente novo da ciência da computação.
Os pesquisadores puderam listar o tipo de publicação que mais instiga sentimentos negativos. Em primeiro ligar figuram comentários e fotos de viagens e de momentos de lazer. Ao ver as imagens do turismo alegre do amigo, o solitário que navega pela web sem nunca arredar o pé da própria casa é tomado por um sentimento de inferioridade.
Em segundo lugar está a percepção de que os posts dos amigos alcançam grande repercussão.
Em terceiro lugar vem o paradoxal sentimento de tristeza diante da felicidade alheia. Aos 21 anos, a paulistana Camila de Freitas está na faixa de idade dos participantes do estudo alemão e passa o dia conferindo atualizações no Facebook. Recentemente, ela teve uma desagradável surpresa na rede social. "Senti uma raiva imensa quando deparei com fotos de meu ex-namorado beijando uma menina que se dizia minha melhor amiga. Para piorar, os retratos eram de uma viagem a Miami, cidade que sonhava em visitar com ele quando estávamos juntos".
A infelicidade virtual nasce, muitas vezes, de uma percepção exagerada da felicidade alheia e da própria infelicidade. "Os usuários do Facebook tendem a selecionar e exibir na rede apenas o melhor da sua vida", diz Hanna Krasnova. "Quem se sente inferiorizado não percebe que o que vênão é a vida real do outro e, sim, apenas uma versão editada de seus melhores momentos". No ano passado, período em que estudou moda em Milão, a pernambucana Laíse Nogueira, de 24 anos, postava fotos nas quais aparecia sorridente ao lado de colegas. "Só que o sorriso não refletia minha real situação", conta Laíse. "Estava triste e me sentia solitária vendo as fotos de meus amigos se divertindo no Brasil". Os amigos brasileiros, que não sabiam disso, invejavam sua vida na Itália. É o caso típico de o gramado do vizinho ser mais verde.
Apesar de ser estigmatizada como um dos sete pecados mortais, a inveja não é um sentimento absolutamente perverso. Ao contrário, desejar o que já foi alcançado por outra pessoa pode servir de incentivo para melhorar a própria vida. Mas também pode ser o inferno em vida, pois fomenta o rancor e a angústia.
Um estudo do Instituto Nacional de Ciência Radiológica, no Japão, revelou que a área do cérebro ativada pela inveja é também responsável por processar sensações como a dor física. O alemão Christian Maier, da Universidade de Bamberg, que estuda a irritação sentida por usuários em redes sociais, disse a VEJA que "a tensão causada pela necessidade de se adaptar às regras de um novo mundo transformou o Facebook numa fonte de stress". No caso da inveja, forma-se um ciclo vicioso. Muitos solitários recorrem ao Facebook, permanecem muito tempo on-line, mas interagem pouco com os amigos virtuais. O que veem na rede social são pessoas em festas e viagens. Isso faz com que se sintam ainda mais excluídos.
A frustração os deixa desmotivados a sair de casa e os prende ainda mais ao Facebook. É o ciclo da rede de inveja.
Fonte: A rede da inveja. Reportagem de Carolina Melo e Renata Lucchesi. Revista Veja. Edição 2306 - ano 46 - nº 5. 30 de janeiro de 2013. Editora Abril. Via Blog do Pr. Eliel Gaby