De acordo com o estudo, apenas 15 minutos de risadas aumentaram o nível de tolerância à dor em cerca de 10%
Compartilhar uma sonora gargalhada com amigos pode diminuir a dor graças a substâncias químicas similares aos opiáceos, que invadem o cérebro quando rimos, revelou um estudo britânico. Ele será publicado na edição de quarta-feira (14) do periódico "Proceedings of the Royal Society B", da Academia de Ciências da Reino Unido.
Cientistas fizeram experimentos em laboratório nos quais os voluntários assistiam, ora a clipes de comédia das séries "Mr. Bean" ou "Friends", ora a trechos de programas não humorísticos, como uma partida de golfe ou programas sobre a vida selvagem, enquanto sua resistência à dor era monitorada.
Em outro teste, realizado no Festival Fringe de Edimburgo --evento anual que inclui apresentações de comédia, dança, teatro e música--, voluntários assistiram ora a um número de comédia stand-up, ora a um drama teatral.
Em condições de laboratório, a dor foi provocada por gelo em contato com o braço dos voluntários e por um medidor de pressão que comprimiu o punho até o limite do suportável.No Festival Fringe, foi pediu aos voluntários que se inclinassem contra um muro com as pernas em ângulo reto, como se fossem se sentar em uma cadeira de encosto reto, antes e imediatamente após o show, para ver se o riso havia ajudado a reduzir a dor.
De acordo com o estudo, apenas 15 minutos de risadas aumentaram o nível de tolerância à dor em cerca de 10%.Nas experiências laboratoriais, a programação não humorística não demonstrou ter qualquer efeito de aliviar a dor, nem assistir a uma peça dramática no Festival Fringe.
O estudo demonstrou, no entanto, duas importantes distinções.O único riso que funcionou foi aquele relaxado, não forçado, que faz os olhos apertarem, ao contrário do riso nervoso ou polido.
Este tipo de riso é muito mais provável de acontecer quando se está na companhia de outras pessoas do que sozinho."Poucas pesquisas têm sido feitas sobre por que rimos e qual o papel do riso na sociedade", afirmou Robin Dunbar, diretor do Instituto de Antropologia Social e Cultural da Universidade de Oxford.
"Usando microfones, conseguimos gravar cada um dos participantes e descobrimos que em um show cômico eles riram por cerca de um terço do tempo e sua tolerância à dor aumentou como consequência", acrescentou.
Esta proteção derivou-se, aparentemente, da endorfina, uma substância química complexa que ajuda a transmitir mensagens entre os neurônios, mas também atenua os sinais de dor física e estresse psicológico.
As endorfinas são um produto famoso dos exercícios físicos. Elas ajudam a gerar o bem-estar que se segue à prática de atividades como corrida, natação, remo, ioga, etc.
No caso do riso, os cientistas acreditam que a liberação da substância ocorra devido a um esforço muscular repetido e involuntário que se dá quando a expiração não é seguida da tomada de fôlego. Exalar nos deixa exaustos e, consequentemente, leva à liberação das endorfinas.
Acredita-se que grandes símios também sejam capazes de rir mas, ao contrário dos humanos, eles inspiram tão bem quanto expiram quando riem.Os cientistas acreditam que os experimentos ajudarão a compreender o mecanismo psicológico e social de como o riso é gerado.
O grupo parece vital no desencadeamento do tipo certo de riso liberador de endorfina, afirmaram.Estudos anteriores se concentraram mais em por que as pessoas riem e não em como elas o fazem.
Uma hipótese é que o riso ajudaria a transmitir sinais de acasalamento ou de vínculos entre os indivíduos.Outra ideia é que, em um grupo, o riso promove a cooperação social e a identidade coletiva. É, portanto, uma ferramenta evolutiva que ajuda a sobrevivência.